Um deserto seria o ideal: miragens, sede, dificuldades de respiração, desidratação e andar com chaile branco na cabeça e outras roupas claras. Mesmo que a bicicleta se enterrasse na areia - má ideia. Ah! como seria gratificante chegar a uma fortaleza francesa daquelas retratadas nas aventuras de Tintim. Pelo menos teria onde dormir e alimentar-me, tirando todas as outras desvantagens.
Na secção de animais viajantes, Milú terá sido o cão com mais sorte de toda a ficção: foi até onde o dono quis ir e o barco esteve entre os meios de transporte utilizados. Até o cheiro a charutos inalou.
Agora, em relação a viajar no mar e até submergir neste, lembrei-me da Menina do Mar, obra de Sophia de Mello Breyner Andresen (cujo aniversário da morte se comemorou ontem), onde uma menina que cabe na palma da mão mostra o oceano e a sua beleza a um rapaz da praia. Recordo-me da sua leitura há muito tempo atrás, uma estória obrigatória na sala de aula. Contudo, o conto que mais aprecio criado pela autora é "A Viagem" - é impressão minha, ou hoje o tema desta minha dissertação está confinado ao acto de zarpar para outros lugares? -, algo que me faz pensar sempre que o leio, contido na obra Contos Exemplares. Tudo desaparece. O seu companheiro de viagem, o caminho já percorrido e as amoras num milagre das rosas sem realezas. Porque haveria de existir alguém do outro lado do precipício? A esperança reside mesmo nos actos mais desesperados.
"- Ah! - exclamou a mulher - tão depressa! Tão depressa desaparece tudo! Encontramos as coisas. Estão ali. Mas quando voltamos já desapareceram. E nem sabemos quem as desfez e as levou."
in "A Viagem", Contos Exemplares de Sophia de Mello Breyner Andresen
E com isto, já me fui embora e já voltei. É tão bom voltar, e é a partir que espero regressar.
