terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Tanti Auguri a Te

Cheira-me a vela queimada e sabe-me a cera. Não que alguma vez a tenha provado, mas é a mesma questão de algo saber a terra sem nunca a ter degustado.
Trinco enfeites prateados, massa pão sofisticada e comprada. Já não consigo apreciar a doçura, depois de um jantar recheado de salgados - é difícil. O melhor é o bocado de creme que espreme para as mãos e besunta tudo o que tocamos, sem esquecer os cantos da boca por limpar no guardanapo estampada para a ocasião. O copo já reclama de tão vazio que se encontra e conspurcado externamente pelas nossas sensíveis manápula e lábios descolorados de batom com vestígios de metal pesado.
Nem se fala no cabelo, já mais despenteado e sofredor de pequenos choques eléctricos de corrente alterada. Entretanto, o ódio. Só porque quem se senta ao nosso lado grita "vinho é alegria!" após despejar, literalmente, um copo de substância líquida rubra por cima da toalha e do nosso vestido, que é novo em folha e que nos traria melhores memórias que esta, sem dúvida.
Mais um brinde, e ainda agora é que a festa vai no átrio. Ou não. As vozes desafinadas já se fizeram ouvir, na cantiga mais entoada por todos, todos os dias, mais do que uma vez, em várias línguas. Afinal estamos quase a chegar aos 7 mil milhões, e um "Parabéns a Você" nunca fez mal a ninguém. Excepto o incómodo a quem não quer envelhecer...
As despedidas antecipam-se, beijinho para cá, encoste de face para lá. As promessas de novas convivências, e desejos de continuação de feliz aniversário e que "contes muitos", sem dispensar o "com muita saúde".
É caso para dizer "Feliz Aniversário", se for hoje, ou noutro dia qualquer.